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Infertilidade

Devido ao aumento da procura pelas técnicas de Reprodução Assistida por pacientes nos últimos anos, cada vez mais o tema infertilidade vem sendo discutido entre os médicos e pesquisadores.
A infertilidade é uma condição que afeta até um sexto dos casais em idade reprodutiva. Dentro do campo da saúde reprodutiva, a infertilidade implica em uma deficiência que não compromete a integridade física do indivíduo, nem ameaça a vida. Em contra partida, tal deficiência pode causar impacto negativo ao indivíduo sobre o desenvolvimento do mesmo ocasionando frustrações e debilitando sua personalidade, uma vez que a maioria dos casais considera o fato de ter filhos um objetivo de suas vidas.

O ser humano é altamente ineficiente em termos de reprodução quando comparado a outras espécies. A taxa de fertilidade por ciclo fica em torno de 20% ao mês, e a taxa de gravidez acumulada em casais com fertilidade comprovada é de aproximadamente 93% após doze meses.

Embora semelhantes, as causas da esterilidade não se distribuem uniformemente por todo mundo. A Organização Mundial de Saúde (OMS), ao avaliar as causas femininas, mostrou uma distribuição semelhante na América Latina, Ásia e Oriente Médio, enquanto que a maioria das mulheres da África apresentam esterilidade tubária. Já a esterilidade sem causa aparente (ESCA) fica entre 8 e e28% de todas as causas se considerarmos o casal. Portanto, é importante conhecer a prevalência da infertilidade para estabelecer as necessidades potenciais da população, sendo crucial adaptar a atenção sanitária a cada população em particular.

O fator masculino tem importância na infertilidade conjugal. Segundo a OMS, o parceiro masculino tem uma responsabilidade em torno de 50% das causas de infertilidade, o que pode variar ao se considerar outras concomitantes.

A taxa de crescimento populacional da humanidade aumentou rapidamente nas últimas décadas, fato devido ao desenvolvimento da medicina entre os séculos XVIII e XX. Com o início da vacinação, dos cuidados com a higiene, além da descoberta dos antibióticos, todos estes contribuíram para o aumento de esperança de vida dos recém-nascidos. Porém, se compararmos as previsões demográficas baseadas em hipóteses relacionadas a evolução provável da fecundidade e da mortalidade junto ao crescimento populacional apesar dos conflitos e doenças, podemos verificar que a distribuição populacional global ainda assim é descontínua.

Devido a grande influência das condições ambientais, um novo ramo da ciência vem se desenvolvendo, o que poderíamos chamar de Ecologia Humana Reprodutiva, que estuda a fertilidade relacionada a fatores físicos que circundam os seres humanos.

Muito se tem dito e escrito sobre a ação do homem no seu ambiente, mas pouco se sabe sobre como o ambiente afeta este mesmo homem, incluindo sua potencialidade de reprodução. Todas as civilizações valorizam a fertilidade, porém é do conhecimento de todos, que a fertilidade tende a ser menor nos países industrializados.

A fertilidade feminina depende exclusivamente do eixo hipotálamo-hipofisário íntegro, com ovários que apresentem população folicular apta a responder a estímulos hormonais visando maturação oocitária durante idade reprodutiva, enquanto que o homem de mecanismo semelhante, necessita que haja integridade hipotálamo-hipófise – testículos de forma que a produção espermática ocorra em quantidade e qualidade suficientes para que os espermatozóides possam alcançar as tubas uterinas onde ocorrerá naturalmente a fecundação, dando início ao desenvolvimento embrionário.

Cientes da complexidade que envolve todo o processo reprodutivo, diante de qualquer alteração que venha existir tanto no âmbito feminino quanto no masculino, todo o sistema reprodutivo pode vir a ser comprometido de maneira que dificulte a capacidade do casal de gestar.

Atualmente, através de estudos realizados, já se sabe que alguns dos problemas reprodutivos são de origem ocupacional, como distúrbios menstruais em lavadeiras pela constante exposição à umidade, abortamentos ou partos prematuros em tecelãs devido ao trabalho físico extenuante e esterilidade em cavaleiros.

A detecção de alterações na função fisiológica após exposição a um contaminante ambiental é parte da toxicologia. O momento, o intervalo da exposição, assim como o índice são fatores determinantes dos efeitos que estes podem proporcionar ao indivíduo exposto, ou em contato. Nos últimos anos, pesquisadores vêm desenvolvendo biomarcadores específicos que sinalizam modificações orgânicas pós-exposição de grande importância, o que consequentemente leva à necessidade de se conhecer respostas individuais ou populacionais a exposições que podem ser subletais, crônicas ou em baixas doses.

Estudos sugerem impacto dos fatores ambientais na queda da fertilidade masculina, desde os últimos 50 anos, que vem aumentando expressivamente de forma a se observar uma grande redução tanto da concentração espermática quanto do volume seminal. No Brasil, dados do Ministério da Saúde apontam que os homens são responsáveis por 40% dos casos de esterilidade. Entre as principais causas estão o estresse e poluição, além da diabete que também diminui significativamente a qualidade espermática.

“Comer adequadamente ajuda na fertilidade.” Nosso organismo já produz radicais livres naturalmente, portanto, o estresse oxidativo nada mais é do que um distúrbio que causa uma alta concentração de radicais livres no organismo, que pode afetar tanto os espermatozóides quanto os óvulos. Diante desta questão, é recomendado que tanto o homem quanto a mulher façam uma dieta balanceada, rica em legumes, verduras, frutas, ou seja, uma alimentação rica em antioxidantes evitando desta forma o estresse oxidativo. Além da importância de se ter hábitos saudáveis, também se deve evitar o consumo de gorduras saturadas, álcool, cigarro e drogas, já que estes aumentam efetivamente o nível de radicais livres no corpo. O recomendado, nestes casos, seria o uso de substâncias antioxidades como vitaminas A, C e E, dentre outras.

A presença de produtos químicos no dia-a-dia pode causar infertilidade, tal descoberta foi publicada por pesquisadores da Sociedade Européia de Reprodução Humana. Os produtos químicos em avaliação são aqueles derivados do Per Flúor Carbono (PFC) em panelas antiaderentes e em tecidos antimanchas. A Universidade da Califórnia acompanhou 1.240 mulheres que tinham acabado de engravidar, e apresentou como resultado, que as gestantes com maiores índices da substância no sangue levaram muito mais tempo para engravidar.

O Brasil ainda não possui nenhum tipo de legislação que limite a quantidade de perfluorados em produtos, como embalagens de comida, estofados e carpetes. Enquanto que, outras substâncias antes usadas corriqueiramente, como os organoclorados, PCBs e DDT, foram banidos no mundo todo, quando descoberto que sua persistência e toxicidade, combinado com a habilidade de se inserir na cadeia alimentar e na população, espalhavam destruição a vida nos ambientes.

Todas essas e outras pesquisas reabrem a discussão sobre os cuidados que a população e as autoridades devem ter com os produtos químicos usados nos diferentes tipos de indústria, com o aumento da poluição do ar, com a qualidade da água que chega ao consumidor, com o tratamento que os alimentos têm até que cheguem ao consumidor, pois todos estes e outros fatores, além de interferir, seja de forma gradativa, porém crescente, na infertilidade, também pode ocasionar outros danos à população em geral.

Finalmente, fazendo um paralelo entre a questão da reprodução humana e a ecologia, seria lógico pensar em um desenvolvimento sustentável da reprodução, associado à melhor distribuição de recursos (biológicos, econômicos, sociais, culturais), podendo aceitar as intervenções em termos de reprodução humana, com responsabilidade profissional e ética. Se o “bem-estar” propriamente não existe, mas é importante como uma utopia a perseguir, devemos seguir trabalhando na linha da promoção da saúde e compreendendo a definição de saúde como possibilidade de luta contínua por uma melhor qualidade de vida.

Estando impossibilitada a reprodução natural, após investigações clínicas e complementares adequadas, em determinados casos devem ser oferecidos ao casal técnicas de Reprodução Assistida que visam superar obstáculos e proporcionar a possibilidade de gestação. A inseminação intra-uterina (IAH), a fertilização “in vitro” propriamente dita (FIV), a Injeção intracitoplasmática de espermatozóides (ICSI) são as principais técnicas que fazem parte do programa de Reprodução Assistida.

Recentemente, foi lançada uma nova técnica voltada especificamente para o tratamento de fator masculino, denominada IMSI – injeção intracitoplasmática de espermatozóides selecionados morfologicamente. No Brasil, conhecida como Super-ICSI.

Em 2007, pesquisadores demonstraram que a incidência de aberrações cromossômicas tem relação positiva com a morfologia anormal do espermatozóide, ou seja, quanto mais severa a anomalidade morfológica maior a incidência de alterações genéticas nestes espermatozóides. A integridade do núcleo (forma regular, aspecto homogêneo e ausência de vacúolos) é considerada um dos parâmetros mais importantes para o sucesso da injeção intracitoplasmátcia do espermatozóide. Porém, a magnificação de 400 vezes, típica do ICSI convencional, traz uma seleção do melhor espermatozóide em termos morfológicos e funcionais não tão precisa.

Com o surgimento de um sofisticado sistema de lentes de amplificação de imagens (de 6.000 a 12.000 vezes), tornou-se possível uma melhor avaliação das características dos espermatozóides (acrossoma, lâmina pós-acrossomal, peça intermediária, mitocôndrias, cauda e núcleo) possibilitando, consequentemente, uma melhor seleção do espermatozóide a ser utilizado na técnica de ICSI, denominada Super-ICSI.

A eficiência do Super-ICSI é traduzida através das taxas de gravidez. Comparativamente, as taxas obtidas com ICSI convencional variam de 30% a 45%, dependo da idade feminina, enquanto que em única tentativa com o Super-ICSI, a taxa de gravidez é de 66,3%.

Embora seja importante a realização de pesquisas sobre os cuidados que a população e as autoridades devem ter quanto a poluição, produtos químicos, entre outros já mencionadas, vale a pena ressaltar que a Reprodução Assistida e suas técnicas de alta qualidade e de bom resultado pode ser considerada uma solução imediata para a infertilidade.